SONHOS FLUTUANTES

SONHOS FLUTUANTES

Não roubem o sonhar a este meu ser,
Mas deixem-me dormir, cerrar meus olhos...
E bem serenamente adormecer
Na estrada de meus sonhos, meus escolhos...

E, ao vir essa manhã, que eu possa ver
Esses meus sonhos... Quando despertar,
Eu lance para trás o meu sofrer
E sinta minha vida a caminhar...

Murmure-me ao ouvido suavemente
E deixe-me sonhar um sonho novo
Que me desperte à vida novamente...

E, se eu voltar à vida que era dantes,
Que eu possa oferecer a todo o meu povo
O meu solar de SONHOS FLUTUANTES...

O EMIGRANTE

Vão-me rolando pela face,
Em ritmo constante,
Noite e dia, a todo o instante,
Lágrimas...
Lágrimas de alegria e de tristeza
Vistas por seres indiscretos que me cercam
Com olhares de vilania ou nobreza...
Que não sabem ler nada de nada...
Saudade....
Saudade imensa da terra portuguesa...
Nesta nostalgia,
Sinto presente, a cada instante,
A dor da distância...
- É duro ser emigrante! -
Longe da terra, cada um abraça o sonho
Que tanto enleia, deixar a “guerra”,
Voltar a casa, ver a família e a aldeia.
Ao passar por um emigrante,
Ainda que ele o disfarce,
Leia bem o sofrimento
Que lhe envolve a alma!...
Curve-se perante a sua face
Como se de um nobre
Ou príncipe se tratasse
E viva um só instante a dor intensa, o suor frio
E lágrimas sem fim
( Que ) derramadas em solo estranho,
Lá longe,
Onde a dor se mistura com saudade!...
Só então, acredite,
Se um dia a sorte o bafejar,
Ele corre, corre de regresso ao lar
Que o viu nascer,
Para esquecer as horas amargas,
Os sofrimentos intensos que viveu,
Os sonhos de que não despertou...
- Uma só imagem recordará
Desse sonho louco -
As lágrimas de sangue derramadas
Em horas de solidão,
Lá longe, lá longe, bem longe do lar!
Onde um dia vai voltar
E então, mui feliz, irá chorar!

A MUSA

Procuro a musa - tamanho o desvelo
Que só inspira ideias engenhosas
E surgem ao desfazer o novelo
Da minha vida - ligações perigosas!

Minha candeia ardente cujo enredo
Desvenda a vida de almas ansiosas,
Vai ler e ler, num íntimo segredo,
Seu livro oculto de almas sequiosas!

Mas a luz diligente que alumia..,
No íntimo da alma, vai subindo
No cimo de montanhas de alegria;

E, se a desilusão vem de repente,
Eu deixo que a tristeza vá seguindo
E que a esperança fique novamente.

MUNDO VILÃO

Quando Janeiro chega, uma promessa
Eu faço para mim - como vai ser
O novo ano. E corro a toda a pressa,
Na ânsia deste mundo vil perder.

Como uma ovelha que procura a relva,
Nos verdejantes pastos sem ter fim,
Inquieto, eu fujo à vida - bruta selva,
Que, dia a dia, me persegue assim.

Envolto em mil promessas de fortuna,
Levado em ilusões ao infinito,
Eu tento a minha sorte inoportuna...

É que nem sempre a sorte nos dá a mão...
E quando chego ao fim - ano perdido,
Eu sinto que este mundo é um vilão!

ENGANO

Fora somente para me enganar,
Ao chamar amor àquele romance.
Sabia bem que em nada ia dar,
Pois finito e vago era o seu alcance.

Embebida no sonho que abracei,
Imaginava que fosse aquilo
Que, em minha alma sonhadora, sonhei...
Ó penhasco, imaginado berilo!

Pouco te interessa a raça, ou a cor,
Sonhos de romance e de poesia
Buscas sempre outro perfume, outro odor.

Obstinado, corres por outra saia,
Noutro busto, buscas as regalias
Cedidas por alguém da tua laia.

SEM GRADES

Aqui, só, sozinho,
Nesta prisão sem grades,
Escuto o sussurrar da razão
Que me chama prisioneiro da liberdade.
Sem rumo, sem horizonte,
Vislumbro o céu já doutra cor.
Ao sol, as nuvens esvoaçam
Na chuva de impropérios dum Arco-íris
Cinzento, que insiste em brilhar
No mundo hostil e sem compaixão.
Voo, voo sem fim,
Sem saber onde parar...
Ó! Liberdade! Ó! Mundo!
Tende pena de mim:
Levai-me nas asas da esperança,
Soltai-me desta prisão sem fim.

SAUDADE

Atónito, olho o rio - que realeza!
Paisagem luxuriante e sempre bela...
Parece querer vingar-se a Natureza,
Para querer pintar tal aguarela.

Naquele verde imenso eu mal medito...
E sobre o sussurrar do seu regato;
Fico em silêncio..., sim, então eu grito
Pelo bonito olhar do teu retracto.

Então meu ser se encontra e se procura,
Nesse silêncio, sempre tão discreto
E busca teu olhar..., que desventura...

Aqui, absorto, só, neste lugar
Sombrio que me cerca, estás tão perto
Que só anseio poder-te abraçar.

SOLIDÃO

As multidões sem fim
Correm, correm, sem cessar,
De um lado para o outro....
Eu, só, só e triste, sigo-as sem notar...
No metro, na igreja...
Pela rua a vaguear,
Sou arrastado pela multidão...
Mas vivo só,... e nessa solidão, grito....
Ninguém ouve!... Ninguém me entende...
Resignado e solitário,
Vagueio pelo mundo,
Sem esperar nada de ninguém...
E assim, vivo ignorado, amargurado,
Até que, um dia,
A morte seja generosa comigo.

SEMEADOR

Serei semeador para semear
O amor no peito teu com mui carinho;
Desejo tanto a semente espalhar,
Mas sempre levemente, de mansinho.

E nem me importa qual seja meu fado,
Se juntos encontrarmos o caminho;
E almejo ver o céu sempre estrelado
E a natureza envolta de carinho.

O firmamento para nós plantou
O que esta terra tem de mais bonito!
E a felicidade enfim chegou!....

Ao ver essa semente germinar
Meu coração, ao mundo lançou o grito
Desta vontade imensa de te amar.

NO MEU QUARTO

A noite chegou,
Com a lua cheia de sonhos,
As estrelas no céu, reluzentes,
Brilhavam indiferentes
À hipocrisia da vida...
No meu quarto deitado,
Cansado de voar atrás de ti
- Pura ilusão,
Mergulhei nos meus sonhos vagos...
Só, completamente só, na minha escuridão!
E, cativo de revolto pensamento,
Sucumbo cada dia;
Em meu tormento,
Num sofrimento atroz,
Atroz e lento,
Lento e profundo,
Como que se, arrastado pelo vento,
Eu visse em cada momento
O fim do mundo...
E a treva, inclemente,
Caiu indiferente
Neste chão sem fundo...
Porquê? Eis-me mergulhado na tristeza,
Nesta prisão de incerteza
Que amarfanha a razão da minha dor
Em batidas do vento,
Fugindo ao tempo, sem tempo,
Cativo do sofrimento do amor!!!

A INGRATIDÃO

Naquela hora em que cruzei contigo,
Apaixonei-me verdadeiramente!
Poderás entender quanto a maldigo,
Cansada de quem assim tanto mente....

Acreditei que só a mim amavas
Tantas foram as vezes que o disseste!
Pensei somente a verdade falavas
Nas infindáveis juras que fizeste!

Mas afinal buscavas os meus braços
Quando ninguém mais te dava atenção...
Dia após dia, prendi-me em teus laços!

O tempo provou.....tudo fora em vão,
Foram tantos os beijos e abraços
E a tua paga foi a ingratidão!

A ÂNCORA DA VIDA

Meu coração,
Minha alma, à deriva,
Iam naufragando de ilhéu em ilhéu,
Até que apareceste
E, qual âncora da vida,
Elevaste-me ao céu!

A luz, a felicidade.......
A alegria de viver
Inundaram, na verdade, este meu ser!
Fiz planos..... fiz projectos.....
Que loucura!....
Um sonho irreal, imaterializado,
Néctar da felicidade do passado!
E no conforto dessa loa inocente,
Partiste à toa
Recuperaste o ser perdido...
Transformaste a tristeza em felicidade,
Sem dor que doa
Mas que nos faz sentir gente
Sem maldade, com sentido...,
Contigo, sempre contigo a meu lado...
Agora, nenhuma adversidade me detém,
Porque sei que me amas

E loucamente te amo também!

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